Hoje vi que muita teoria nem sempre é necessária…
É de conhecimento geral que não devemos falar sobre coisas que não conhecemos. Tendo isso em mente, eu estava bastante receosa enquanto me dirigia à exposição da recente Galeria Verve, “Transfigurações/o que precede o corpo”. O meu conhecimento acerca de arte contemporânea é basicamente nulo, então como eu poderia escrever um artigo sobre aquela mostra? Bastou eu chegar na frente da galeria para entender exatamente o porque tinha ido até lá.
A Verve habita uma charmosa casa na rua Lisboa com uma entrada pequena que não passa desapercebida e se impõe com estilo no cenário da rua. O ambiente agradável invadido pela luz diurna cria uma atmosfera bastante convidativa para apreciar as peças ali expostas. Conversei então com Allann Seabra, artista plástico que também é diretor artístico e sócio da Galeria. Allann contou que após decidir o tema da exposição ele foi então repassado aos demais artistas para que fornecessem interpretações sobre o mesmo em diversas expressões como a fotografia, pintura e escultura.
Logo na entrada havia um conjunto interessante de esculturas humanas expressivas em bronze assinadas por Renato Blasch . Além da diversidade de posições, algumas esculturas contrastavam em sua textura, resultado do uso de técnicas diferentes para a confecção do molde. Algumas delas eram lisas e límpidas sendo possível observar detalhes da interpretação da anatomia humana enquanto outras tinham aspecto mais áspero e visceral.
No andar inferior da galeria o que prende a atenção logo de início é o resultado material da performance “OLUCÁTEPSE”, executada pelo artista Francisco Rosa na abertura da mostra. A performance partiu de uma tela em branco posicionada no chão enquanto o performer, vestido de branco, caminhava sobre uma corda em uma sapatilha de ponta estourando balões de tinta que estavam no teto da galeria.
Mas confesso, o que eu mais gostei foram os trabalhos executados sobre linho e algodão da artista Luisa Malzoni. Entre lenços bordados e fotografias impressas com o uso de diferentes técnicas a nota comum entre os trabalhos de Luiza é a leveza com a qual eles nos atingem. O uso inteligente dos materiais dá às obras um sentimento de familiaridade e conforto, numa interpretação bastante lírica da suavidade da forma.
Ainda no andar de baixo podemos ver as telas intituladas “Sudário do meu I”, II e III, de Allann Seabra, que utilizou seu próprio corpo coberto de tinta para confeccionar as telas fazendo de sua obra um relato da transfiguração de seu corpo em movimento.
É importante também destacar a impactante peça denominada “Herança Negreira” de Fernanda Guedella, que consiste em uma frágil gaiola branca de portas abertas com cabeças de Raku-Cerâmica em seu interior. Para obter o efeito desejado, a artista queimou as peças de cerâmica dentro de cupinzeiros, que atuam como fornos e resultam no Raku. A peça além de muito bonita atua também como denúncia da situação da população negra que ainda hoje vive submetida ao preconceito velado que fervilha sob a superfície de uma convenção hipócrita que finge que o país oferece oportunidades iguais à todos.
Seria muito pretensioso da minha parte querer fazer uma análise completa das obras, eu não tenho gabarito para isso. Mas basta dizer que transfigurar é se metamorfosear. E se o tema era justamente sobre a mudança de forma e aquilo que a transcende, o resultado não poderia ser outro além de diversas expressões bastante pessoais e distintas que podem ser apreciadas e adquiridas na Galeria Verve na mostra que estará em cartaz até 20 de Fevereiro.
Galeria Verve
Rua Lisboa 285 – Jd. América
São Paulo – SP
Tel.: +55 11 2737-1249
contato@vervegaleria.com
Horário de funcionamento:
Seg – Sáb: 10hs às 20hs
Dom: 14hs às 18hs
Conclusão: talvez o poder da arte seja mesmo esse, de conseguir falar conosco mesmo quando não estamos habituados com a sua linguagem.
As imagens utilizadas nesse post foram gentilmente cedidas pela galeria. Agradecimentos especiais à Maria Fernanda Balazs que me acompanhou na visita à galeria e colaborou largamente com esse post.
Eu amei ir à galeria com você, foi realmente muito especial. Esse post está tão inspirador que estou com vontade de ir de novo hahaha
Obrigada querida, também amei aquele dia! obrigada pela companhia e pela ajuda! Vamos marcar mais vezes de ir em lugares diferentes :D