Poucos filmes dessa temporada foram tão injustiçados como “Foxcatcher – Uma história que chocou o mundo” (Foxcatcher – 2014). Sucesso de crítica porém fracasso de público, o filme mal estreou e em breve já deve estar fora do circuito. O que é uma pena, pois bem dirigido e magistralmente atuado, o filme sem dúvidas merece ser visto.
Com roteiro inspirado por fatos reais, o filme retrata um dos crimes de maior repercussão midiática dos anos 90. E apesar de contar de novo uma história que todo mundo já conhece, o filme é bem construído a ponto de permitir que todos se surpreendam mais uma vez com a chocante história de John du Pont.
Herdeiro de uma das mais ricas famílias americanas e amante de esportes, John du Pont (interpretado brilhantemente por Steve Carell) desenvolve um avançado centro de treinamento para lutadores. Seu objetivo é um só: produzir o novo campeão olímpico. Quem compra essa idéia é Mark Schultz (Channing Tatum), o jovem e disciplinado lutador que se muda carregando todos os seus sonhos para a fazenda Foxcatcher, a propriedade da família du Pont, e mais tarde convence seu irmão David (Mark Ruffalo) a juntar-se a ele.
Encarada pelo espectador de início como sendo mais um local para colocar o dinheiro infinito de um milionário entediado e excêntrico, logo a fazenda Foxcatcher se torna palco para um desconforto crescente. Conduzido pela direção segura de Bennett Miller, o espectador sente o tempo todo que por baixo daquela aparente calmaria existe uma tensão crescente.
E é assim que se constrói o clima de “Foxcatcher”, numa habilidosa manipulação de sutilezas e detalhes. Inquietos por um permanente incômodo estabelecido logo no começo do filme, acompanhamos a perturbadora personalidade de du Pont em contraste com o afeto e cuidado que existe entre os irmãos Schultz. Algo ali está prestes a dar muito errado…
“Foxcatcher” é um filme que não se contenta em ser meramente “correto”. É um filme muito bom com direção e técnica excepcionais. Uma pena não ter sido indicado ao prêmio principal do Oscar, mas pelo menos Miller pode dormir tranquilo sabendo que não se limitou a contar uma história de modo genérico. Pena que o público geral não tenha comprado essa idéia…
Além de tudo, o filme também entrega algumas das melhores atuações do ano. Que Mark Ruffalo é um excelente ator, todo mundo já sabia. Mas foi uma grande alegria ver que em “Foxcatcher” Channing Tatum teve a oportunidade de atuar fora de sua zona de conforto e entregar uma performance madura e cheia de nuances, mostrando para o público que ele é um ator versátil e talentoso, uma pena que sua participação não tenha rendido uma nomeação como melhor ator. A cereja do bolo, é claro, Steve Carell, que sempre atuou bem, mas fora das comédias habituais ganhou liberdade maior para mostrar uma interpretação rica digna de todos os elogios que recebeu.
Mas é isso aí. Enquanto o filme novo das Tartarugas Ninja teve uma das maiores bilheterias do ano, ninguém deu muita bola pra Foxcatcher… vai entender.
[…] Foxcatcher – indicado à Melhor Direção (Bennett Miller); Melhor Ator (Steve Carell); Melhor Ator Coadjuvante (Mark Ruffalo); Melhor Roteiro Original (E. Max Frye e Dan Futterman); Melhor Maquiagem (Bill Corso e Dennis Liddiard) […]