Pode até ser que a imprensa geral tenha caído em cima de Boyhood e de sua filmagem espalhada ao longo de 12 anos, mas na comunidade cinéfila as atenções estavam todas voltadas para “Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)” (Birdman – 2014). Na verdade, os filmes do mexicano Alejandro González Iñárritu – que também dirigiu os famosos Babel e Biutiful, por exemplo – sempre recebem atenção por sua grande qualidade técnica, atenção essa que “Birdman” lindamente decidiu honrar.
Em seu melhor (dentre outros bons) filme até agora, Iñárritu nos insere dentro de um teatro e nos conduz com sua câmera flutuante para seguirmos alguma das figuras que ali habitam, uma de cada vez, para desvendarmos a história que vai se desenrolar ao longo das duas horas seguintes.
Conhecemos então Riggan (Michael Keaton), uma celebridade de meia idade que está diante do que pode ser a última chance para provar-se de fato como ator. Com sua fama escorada por interpretar um super-herói em uma série de blockbusters há mais de vinte anos atrás, Riggan investe tudo o que tem em uma megalomaníaca montagem teatral onde será o roteirista, diretor e protagonista numa tentativa desesperada de negar sua obsolescência.
Em uma trama onde não existem limites entre o pessoal e o profissional, vemos então a luta pífia de Riggan para desvencilhar-se de seu Batman Birdman, apenas para descobrir que tal exercício é andar em círculos, pois fazendo isso ele estaria apenas negando a si mesmo.
O filme é de altíssima qualidade técnica. É bem dirigido, bem filmado e possui uma belíssima e quase imperceptível edição, que faz com que os longos planos costurados juntos deem a sensação de serem apenas um. A fotografia e a trilha sonora são igualmente lindas e junto com um elenco consistente e talentoso fazem de “Birdman” uma jóia cinematógrafica.
Agora, se qualquer semelhança não é mera coincidência, talvez o suposto maior trunfo do filme na verdade seja sua maior fraqueza. Caberá ao tempo dizer se “Birdman” conseguirá se sustentar sem sua evidente metalinguagem com a vida real de Michael Keaton, que mesmo com 40 anos de carreira ainda sente nas costas o peso de ter carregado o manto do Homem-Morcego.
Tentei ver, mas não consegui. Além de constante interrupções a trama já ia em longos minutos e não parecia agarrar a atenção. talvez tenha todo esse encanto de que falas mas achei que foi sobrevalorizado.
Entretanto descobri outros filmes feitos o ano passado que me surpreenderam verdadeiramente. Alguns nem entendo como a Academia pode passá-los para trás. Este ano foi aquele em que ouvi mais pessoas a dizer que nenhum dos filmes nomeados lhes pareceu grande coisa. Boudapest Hotel estava tão bem cotado, e não ganhou nada. 2014 talvez tenha sido o pior ano dos últimos em termos de bons filmes produzidos em Hollywood. Terá algo a ver com o ataque cibernético?
[…] Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) – indicado à Melhor Filme; Melhor Direção (Alejandro González Iñárritu); Melhor Ator (Michael Keaton); Melhor Ator Coadjuvante (Edward Norton); Melhor Atriz Coadjuvante (Emma Stone); Melhor Roteiro Original (Alejandro González Iñárritu, Nicolás Giacobone, Alexander Dinelaris e Armando Bo); Melhor Fotografia (Emmanuel Lubezki); Melhor Mixagem de Som (Jon Taylor, Frank A. Montaño e Thomas Varga); Melhor Edição de Som (Aaron Glascock e Martín Hernández) […]